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'O Agente Secreto' mostra um Brasil Pirracento e aborda por outro ângulo a ditadura militar


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É um filme espetacular . Com uma primeira cena inesquecível e tão real para a época retratada, o diretor Kleber Mendonça Filho nos apresenta a quase tudo o que precisamos saber sobre seu longa que se passa em 1977 com a ditadura militar no Brasil a todo vapor, sobre tudo, uma ditadura empresarial pouco abordada e comentada nos filmes sobre o tema, e é partindo desse contexto que é possível descobrir toda a razão do clima perigoso que vai lentamente se criando conforme a trama avança.


O Filme pinta um Brasil em uma época de muita pirraça, tendo o pano de fundo a belíssima Recife. Em O Agente Secreto, o estado opressor, apesar de sempre presente como uma nuvem carregada no horizonte, permanece quase sempre no banco de reservas, em um papel mais passivo, abrindo espaço para a corrupção sistêmica de interesses privados que se beneficiam da situação. Ou seja, temos aqui um filme na época da ditadura mas que porém, não a coloca em evidência a todo momento como Vilã da história que é, mas vai mais além, mostra como os brasileiros estavam entregues a própria sorte sem poder contar com o mínimo de Justiça se quer, para qualquer tipo de assunto.


A história de Marcelo (Wagner Moura), fugitivo que desembarca no Recife de 1977, é apenas o fio condutor. Por trás dele, o que se esconde é o retrato de um país que apaga pessoas, lugares e lembranças - o mesmo Brasil de Aquarius, Bacurau e Retratos Fantasmas. A fotografia, de tons sépia e luz difusa, remete a um cinema antigo, quase analógico, em que cada plano parece resgatar uma lembrança. O São Luiz, o centro, a Praça do Sebo, o som abafado das fitas e dos projetores: tudo pulsa como um inventário da memória recifense.


Vale ressaltar as interpretações de todo o elenco, sejam dos mais famosos ao que viviam no anonimato como , como a atriz Tania Maria de 78 anos que dá vida à dona Sebastiana, uma senhorinha amável, arretada e muito engraçada. Aliás, apesar do clima tenso que se mantém durante todo o filme, há também vários momentos em que o público irá dá boas risadas. Mas a gente não pode deixar de falar da atuação majestosa do Wagner Moura em cada situação diferente apresentada no filme, certamente será indicado ao Oscar.


No entanto, um encerramento menos do que perfeito de um épico de outra forma quase irretocável não é um  problema realmente sério e O Agente Secreto triunfa como um thriller de queima lenta que nos deixa ver um aspecto pouco explorado da ditadura em meio a uma história carregada de vigor narrativo e apuro estético, com um fenomenal trabalho dramático de Wagner Moura. Lógico que ficou algumas lacunas, e perguntas sem respostas no final, mas como na época da ditadura, muitas coisas estão sem respostas até hoje.


Dos momentos mais tensos aos minutos de violência explícita , o filme brilha em um roteiro que prende a atenção do público conforme vai se revelando as várias histórias dos personagens da trama fazendo nos lembrar que nem tudo que parece é, e confirmando como muitos viviam escondidos no Brasil, de um sistema que poderia matar a qualquer momento. O Agente Secreto, é mesmo um filme espetacular, visceral, original e com a marca de histórias brasileiras que só mesmo nós para contar, e ainda colocar nas telonas de um jeito tão espetacular.

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